Respire fundo, abra este livro e entregue-se: você está embarcando numa experiência transformadora. Os contos de Cristina Judar são tragicamente plásticos e velozmente cinematográficos. A gente os lê e enxerga a um só tempo. Mesmo quando as imagens nos provocam desconforto, não há tempo pra desviar. Você vai derreter. E vai gostar disso.
Com pulso firme, Cristina leva o leitor a um passeio por aqueles nichos que nem sempre gostamos de visitar. São pedaços de vida bem estruturados, cirurgicamente fatiados, que vão nos mordendo como descargas elétricas. As cenas jorram de frestas finas, muito comprimidas, como se estivessem contidas há muito dentro de alguma coisa e, de uma hora pra outra, se deixassem partir por meio de rachaduras forçadas de dentro pra fora. São golpes duros. E que também deliciam pela plenitude artística.
Narradora habilidosa, Cristina fala do cotidiano, da solidão urbana, da espera, do alento. E, como naquela definição de uma boa obra de arte, condensam o que há de mais importante a ser dito sobre a nossa miséria sem explicitar exatamente o que é. Na forma, as histórias têm aberturas secas e finais abruptos, como - é o que se diz - os bons contos devem ser. Deixam o leitor com de boca aberta, o que talvez seja a mais importante função do artista. A gente se perturba com eles, não há como sair ileso.
Os bons romances nos marcam de um jeito; os bons contos, de outro. Não acho, enfim, que existam bons contistas ou bons romancistas. Há escritores capazes de fundir cabeças, de desatarraxar ideias. E fazem isso com um talento que dispensa resenhas, com a capacidade de imprimir, em seu trabalho, aquele grau de carga dramática que nos injeta, compulsoriamente, a autêntica experiência de viver uma obra de arte.
*Escritor e jornalista, Gustavo Machado é autor dos romances “Sob o céu de agosto”, lançado no Brasil em 2010 e traduzido na Alemanha, em 2013; e “Marcha de inverno”, publicado em 2014.
Respire fundo, abra este livro e entregue-se: você está embarcando numa experiência transformadora. Os contos de Cristina Judar são tragicamente plásticos e velozmente cinematográficos. A gente os lê e enxerga a um só tempo. Mesmo quando as imagens nos provocam desconforto, não há tempo pra desviar. Você vai derreter. E vai gostar disso.
Com pulso firme, Cristina leva o leitor a um passeio por aqueles nichos que nem sempre gostamos de visitar. São pedaços de vida bem estruturados, cirurgicamente fatiados, que vão nos mordendo como descargas elétricas. As cenas jorram de frestas finas, muito comprimidas, como se estivessem contidas há muito dentro de alguma coisa e, de uma hora pra outra, se deixassem partir por meio de rachaduras forçadas de dentro pra fora. São golpes duros. E que também deliciam pela plenitude artística.
Narradora habilidosa, Cristina fala do cotidiano, da solidão urbana, da espera, do alento. E, como naquela definição de uma boa obra de arte, condensam o que há de mais importante a ser dito sobre a nossa miséria sem explicitar exatamente o que é. Na forma, as histórias têm aberturas secas e finais abruptos, como - é o que se diz - os bons contos devem ser. Deixam o leitor com de boca aberta, o que talvez seja a mais importante função do artista. A gente se perturba com eles, não há como sair ileso.
Os bons romances nos marcam de um jeito; os bons contos, de outro. Não acho, enfim, que existam bons contistas ou bons romancistas. Há escritores capazes de fundir cabeças, de desatarraxar ideias. E fazem isso com um talento que dispensa resenhas, com a capacidade de imprimir, em seu trabalho, aquele grau de carga dramática que nos injeta, compulsoriamente, a autêntica experiência de viver uma obra de arte.
*Escritor e jornalista, Gustavo Machado é autor dos romances “Sob o céu de agosto”, lançado no Brasil em 2010 e traduzido na Alemanha, em 2013; e “Marcha de inverno”, publicado em 2014.